Como se não bastassem os ataques que o funcionalismo público sofre por parte de sucessivos governos e pela mídia burguesa, que faz a opinião pública se voltar contra nós, apareceram nesta greve alguns colegas fazendo coro a essa ideologia que só serve para nos dividir e prejudicar ainda mais a luta por um serviço público de qualidade, que passa pela valorização de seus trabalhadores. Sofremos na carne as agressões constantes veiculadas na opinião pública, acusando os servidores como preguiçosos, ineficientes e os responsáveis pela lentidão da Justiça. Todos os dias, vamos para nossos postos de trabalho e, mesmo com sobrecarga de trabalho e em condições muito adversas, apostamos numa sociedade mais democrática, lutando contra os resquícios de autoritarismo e clientelismos ainda presentes no Poder Judiciário e sonhando que, um dia, cada cidadão possa saber quais os verdadeiros motivos da lentidão da prestação jurisdicional, porque controlará e poderá opinar também sobre esse espaço institucional. Facilmente encontraremos posicionamentos e opiniões que enquadram os funcionários públicos como detentores de privilégios a causar o caos e a falência do Estado brasileiro ou como um grupo corporativo que estaria obstaculizando a modernização do país. Não são poucos os que percebem o funcionário público como prepotente e burocrata, um dificultador da vida do cidadão comum, quando, na verdade, o servidor público é um cidadão em duplo grau porque é responsável pela prestação de serviços públicos e por fazer com que outros sejam efetivamente cidadãos. O próprio servidor, muitas vezes, incorpora essa visão de si mesmo, não se percebendo enquanto um profissional que não se subordina a uma determinada pessoa, e sim a uma organização e aos valores por ela encarnados, que deve ter autonomia de julgamento, que não pode ser atemorizado pelas mudanças conjunturais nas administrações e nos governos das instituições a que pertence. Deve ser sim um cidadão comprometido, com identidade e moral profissional que exclui o servilismo tanto quanto proíbe a arbitrariedade, que precisa ser um agente de transformação, de conscientização, de mobilização e participação. Nesse papel, ele tem também que valorizar e fazer valer a sua condição de intermediário, mostrando aos demais cidadãos que procuram os órgãos públicos que as precárias condições com as quais opera não são culpa dele, mas de um projeto muito maior, que se reflete em todos os momentos, no sentido de precarizar os direitos do cidadão. A grande mídia procura confundir a opinião pública divulgando mentiras e preconceitos contra os servidores públicos, mas nós não podemos reforçar essa idéia errônea, pois temos consciência do nosso valor e sabemos que a história é construída por homens e mulheres que não perdem a capacidade de indignação e que se solidarizam na busca de melhores condições de vida. Portanto, colegas, lutemos unidos por nossos direitos e os de todos os milhões de vítimas desse sistema excludente e concentrador de renda e por um Brasil diferente, em que os direitos assegurados na Constituição tenham efetividade, tanto nas decisões tomadas pelo Poder Judiciário como nas políticas implementadas pelos nossos governantes
Por Gládis Lorinda Ludwig, servidora da Seção de Cadastramento de Bens do TRT e integrante do Comando Estadual de Greve