É só ligar a televisão, acessar o smartphone ou folhar um jornal para conferir: os ataques da velha mídia aos servidores públicos são constantes.
Utilizando sua influência, credibilidade, alcance e audiência para moldar a visão da população sobre a realidade, a estratégia é plantar a ideia de que privatização dos serviços públicos e das empresas estatais é a única saída para as crises que afetam nosso país.
Isso não é novidade. A tática já foi usada inúmeras vezes na história do Brasil.
E não precisamos nem voltar a um passado muito distante. Basta retrocedermos um pouco na história para lembrar o papel da mídia na aprovação da Reforma Trabalhista do governo de Michel Temer. Você se lembra que o discurso era fatalista: “o Brasil só voltará a gerar empregos se o projeto for aprovado”. O resultado foi bem diferente: menos direitos, empregos cada vez mais precarizados e aumento do desemprego absoluto.
Fizeram o mesmo com a Reforma da Previdência, originada no governo Temer e aprovada pelo governo Bolsonaro. Repetiram o mesmo discurso, como se uma tragédia fosse se abater sobre o país se o Congresso não aprovasse o projeto. Em breve ficará comprovado que não houve benefícios, e os estragos serão sentidos em um futuro não muito distante.
Você se lembra que o governo pagou um cachê para que apresentadores famosos (e milionários) defendessem a proposta do governo em seus programas de televisão?
A mídia também fez propaganda para aprovação da chamada PEC Emergencial, uma chantagem criada pelo governo em troca de mais uma rodada de auxílio emergencial durante a pandemia. Em contrapartida, os salários dos servidores podem ficar congelados por até 15 anos. Bom para o sistema financeiro, já que parte dessa “economia” será destinada aos cofres dos bancos para pagar a dívida pública que nunca foi auditada (e que estranhamente não para de crescer).
Atualmente, os principais grupos de comunicação do Brasil se uniram com o objetivo fortalecer o discurso favorável à aprovação da PEC 32/2020, a Reforma Administrativa, cujo objetivo é fragilizar os servidores, enfraquecer os serviços públicos e permitir que a iniciativa privada e os apadrinhados políticos tomem conta daquilo que é público.
Realizando um recorte sobre determinados acontecimentos, a mídia lança mão de um olhar vinculado aos interesses privados, contando uma narrativa que fomenta o ódio aos servidores públicos, criminaliza suas condutas e joga contra eles a culpa da crise econômica do Brasil.
Unidos pela desinformação da população
Em 2020, os principais grupos de mídia divulgaram um estudo bastante questionável elaborado pelo Instituto Millenium, entidade neoliberal que tem como um de seus fundadores o ministro da Economia, Paulo Guedes. Seu objetivo é influenciar a opinião pública para que certos setores das elites possam lucrar sobre as necessidades da população.
Além disso, é comum percebermos uma certa “confusão” da imprensa (proposital ou por negligência com as informações) sobre os diversos tipos de servidores e funções.
Tratando todos como “iguais”, os meios de comunicação fazem parecer que todo o funcionalismo tem altos salários e recebem os mesmos benefícios (chamados de privilégios, sendo que alguns são exclusivos de determinadas carreiras ou dos militares, que quase nunca são afetados pelas reformas do governo). Servidores do Poder Judiciário são afetados frequentemente por essa “confusão”.
Embora tenham amparados por argumentos muito frágeis e dados distorcidos, os exemplos fortalecem a narrativa de inchaço da máquina pública no Brasil (o que não existe) e corroboraram para avanço da Reforma Administrativa no Congresso.
Quando os interesses econômicos dos membros do governo e da velha mídia estão em jogo, eles deixam de lado todas as diferenças e passam a compartilhar o mesmo discurso. É a expressão “o dinheiro manda” colocada em prática.
Interesses da mídia
A profunda relação entre os meios de comunicação (como diz outra expressão popular: “eles brigam da boca pra fora”), o empresariado e o atual governo é movida por trocas de benefícios entre eles, patrocínios e alívios fiscais.
A ampla movimentação em busca da aprovação da Reforma Administrativa pretende desviar o foco de outras iniciativas que poderiam discutir a situação financeira do país, como o fim da isenção na distribuição de lucros e dividendos e a tributação de grandes fortunas, e o aumento na incidência sobre heranças e sobre aplicações financeiras de alto valor.
É claro que esses temas são tratados com tabus pela velha imprensa. Como aqui no Brasil os grandes grupos de comunicação (nacionais e regionais) ainda são basicamente “negócios de família”, os próprios donos seriam afetados. Além disso, essas medidas teriam impacto também sobre as elites do país, consideradas uma das mais mesquinhas do planeta (6ª pior, segundo o Índice de Qualidade das Elites, em uma análise de 32 países).
Ao mesmo tempo, o governo brasileiro abre mão de R$ 315 bilhões por ano em função de isenções dadas a grandes empresas e ainda gasta quase metade do orçamento com a dívida pública. Isso a velha imprensa nunca critica.
Portanto, o problema do Brasil não é falta de dinheiro. São as escolhas do governo e das elites.
O caminho é a valorização
A marca de países desenvolvidos é a valorização e o reconhecimento de seus funcionários públicos, qualquer seja a corrente política do governo.
No Brasil, somente 12% dos trabalhadores estão no serviço público, enquanto nos Estados Unidos, são 15,3%; no Reino Unido, 16%; na Suécia, 28,6%; na Dinamarca 29,1, e na Noruega, 30%. Os dados são da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Ao perseguir e desvalorizar os serviços públicos (você lembra quando foi a última vez que ouviu algum elogio aos servidores?), a velha mídia contribui para que a população tenha menos acesso aos próprios direitos.
Andando de mãos dadas com o governo quando se trata de prejudicar os servidores, ela deixa de cumprir com seu papel social, que é garantir o acesso da população a informações reais, equilibradas e de qualidade.
Nossa União