Com foco na construção de um serviço público mais inclusivo e na promoção da equidade racial, a Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário Federal e do Ministério Público da União (Fenajufe) realizou, nos dias 22 e 23 de novembro, o III Encontro Nacional do Coletivo de Pretas e Pretos, em Brasília. O evento reuniu servidoras e servidores negros de diversas regiões do país para debater o racismo estrutural nas instituições públicas e propor ações concretas de enfrentamento às desigualdades raciais.
Durante os dois dias de atividades, o encontro abordou temas centrais como racismo institucional, políticas de cotas raciais, o impacto da inteligência artificial em processos seletivos e a valorização da identidade negra no serviço público. A abertura do evento contou com a mesa “Racismo estrutural e institucional: impactos na vida da população negra brasileira e no serviço público”, que marcou o tom das discussões: o reconhecimento das barreiras históricas enfrentadas pelas pessoas negras nas estruturas do Estado.
Um dos pontos altos do evento foi o debate sobre os riscos trazidos pelo uso da inteligência artificial em concursos públicos e demais processos de seleção. A pesquisadora e analista do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Mônica Custódio, alertou para a reprodução de preconceitos por algoritmos: “A inteligência artificial não é neutra. Ela carrega os mesmos vícios e vieses de quem a programa. Por isso, é fundamental que haja auditoria constante para evitar a exclusão de candidaturas negras, mesmo em concursos com cotas”, afirmou.
Outra discussão de destaque foi a avaliação da política de cotas raciais e os obstáculos à sua efetivação. Participantes reforçaram que o racismo ainda se manifesta de forma institucionalizada, mesmo nos órgãos do sistema de justiça, com a sub-representação de pessoas negras em cargos de maior prestígio e decisão.
Entre as resoluções aprovadas no encontro, está a mudança da nomenclatura do coletivo, que passa a se chamar Coletivo Nacional de Negras e Negros da Fenajufe (ConneF). A alteração visa ampliar a representatividade e reconhecer o protagonismo das mulheres negras no serviço público e nas lutas sindicais.
Os participantes também aprovaram a construção de um documento base com diretrizes para atuação permanente do coletivo, fortalecendo a luta antirracista dentro da Fenajufe e nos sindicatos filiados. A proposta é que o ConneF atue de forma articulada em campanhas, formação política e formulação de políticas internas voltadas à diversidade racial.
O encerramento do evento, no domingo (23), reforçou a importância da continuidade e ampliação dos espaços de diálogo e construção coletiva, com a defesa de políticas públicas que promovam a justiça racial dentro do Judiciário Federal e do Ministério Público da União.
Com informações da Fenajufe
