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Notícia

Debates no Encontro Nacional de Pretas e Pretos da Fenajufe marcaram o fim de semana

Ocorreu neste fim de semana (26 e 27), em formato híbrido, o Encontro Nacional de Pretas e Pretos da Fenajufe, tendo a frente os coordenadores Luiz Cláudio Correa, presidente do SitraAM/RR, Jaílson Laje e Sandra Dias.

Na abertura dos trabalhos, eles destacaram a importância dos debates de questões raciais no âmbito do judiciário, de modo a aprenderem uns com os outros e falarem dos anseios sobre os caminhos a percorrer.

Para ilustrar a relevância da discussão, Jaílson Laje lembrou um estudo do CNJ segundo o qual 42% dos servidores não informavam sua raça ou sua etnia.

Em seguida teve início o primeiro debate do dia, como o tema “Negritude e poder: o que esperar dos poderes Legislativo e Executivo após as eleições 2022?”. Participaram as palestrantes Patrícia Ramos, professora e membra do Movimento de Mulheres em Luta (MML), as vereadoras Bruna Rodrigues (Pcdo B/RS), integrante da bancada negra do partido na Câmara, e Tainá de Paula (PT/RJ), ambas com forte atuação política-antirracista em seus estados e Artur Miranda, representando a Operativa Nacional da Coalizão Negra Por Direitos.

Em sua fala, Bruna Rodrigues disse que não enxerga um “novo pacto nacional de defesa ou de resgate de nossa nacionalidade, de um projeto de nação sem a inclusão do Judiciário”. A vereadora afirmou que qualquer retomada honesta de gestão que leve em consideração a desigualdade social deve colocar no centro pautas como “o combate à mortalidade da juventude negra, a fome e o extermínio desta mesma juventude”, reforçando que Judiciário é o centro dos Poderes e precisa romper a estrutura racista do país e não manter essa mesma estrutura.

Patrícia Ramos iniciou sua participação falando da importância das atividades do “novembro negro” que, além de relembrar Zumbí e Dandara, representa a força de negras e negros contra as opressões e exploração social mas que também marca a derrota de Bolsonaro nas urnas e “o pior do sistema capitalista”. A militante do MML afirmou, ainda, que “Bolsonaro atacou duramente o povo negro nesses quatro anos e a classe trabalhadora como um todo”. Concluindo, ela citou a pesquisa recente do IBGE, que reafirma as desigualdades da população negra em relação aos brancos.

Em sua intervenção, o coordenador Luiz Cláudio Correa destacou que as dificuldades para pretos e pretas não são apenas nas periferias, mas em todos os lugares, pois sempre têm de lutar muito para conquistar seus espaços, pois são extremamente barrados. “Nós temos de ocupar lugar em tudo, não apenas nos partidos políticos, na discussão da reforma, mas também nos próprios sindicatos e na própria federação, pois até esta discussão é recente por aqui. Em 30 anos de Fenajufe, só há três nós conquistamos o direito a fazer essa discussão”.

Negritude nas Ruas

A parte da tarde, o encontro discutiu a luta das pautas da negritude nas ruas. Iniciando o debate, o convidado do Movimento Negro Unificado do Rio de Janeiro (MNU/RJ), Walmir Júnior enfatizou o descaso do Estado com a população negra. Ele argumentou que as políticas públicas não chegam nas periferias e questiona, “o que esperar de uma comunidade abandonada pelo Estado?”

Walmir criticou com rigor a tentativa de aprovação de redução da maioridade penal, e a “lei do tráfico privilegiada” que trata jovens negros como traficantes e os brancos como “usuários, favorecendo o encarceramento em massa da juventude negra. Para o militante do MNU, é preciso “suprimir os racistas e reorganizar a luta do povo negro”.

Em um forte debate sobre racismo estrutural Rosana Fernandes, secretária de Combate ao Racismo da CUT Nacional, ressaltou que no mercado de trabalho é possível visualizar o racismo de forma mais estruturada “porque o mundo do trabalho ainda é um espaço de subordinação onde, segundo ela, “poucos mandam e muitos obedecem e quem obedece é a maioria negra”.

Resistência

No segundo e último dia do Encontro Nacional de Pretas e Pretos, o tema “Enegrecendo a Fenajufe: desafios da auto-organização dos pretos e pretas no movimento dos(as) trabalhadores(as) do judiciário – limitações, experiências e tarefas”, trouxe emoção nos participantes.
A coordenadora Sandra reviveu momentos de sofrimento ao relatar situações de racismo vivenciados por ela. Situações idênticas foram compartilhadas pelo coordenador Luiz Cláudio Correa.

Sandra lembrou que, ao ser eleita no último Congrejufe, afirmou que iria provocar o debate racial dentro da Federação. “Minha intenção era trazer esse protagonismo das negras e negras para dentro da Fenajufe”. Para ela o “enegrecer” a Fenajufe traz muitos desafios além de mobilizar a categoria e reconheceu que a pauta identitária dentro da atuação sindical é esvaziada e menosprezada.

Luiz Cláudio relembrou que enxergou no concurso público a opção de proporcionar “vida melhor para a família” e os direitos que o trabalhador da iniciativa privada não tinha. Luiz falou de racismo estrutural existentes nas instituições e ressaltou resolução do CNJ que institui cotas raciais para ingresso nos órgãos do PJU inclusive para contratação de terceirizados, mas que essas cotas não são cumpridas.

Segundo ele, essas vagas são preenchidas através de indicação por “gente do alto escalão” e por pessoas brancas. E que é preciso lutar para acabar com isso e é um papel da Federação. Essa oportunidade de justiça social está sendo roubada dentro do serviço público, dentro do Judiciário.

O último dia de evento acolheu as propostas que foram apresentadas pelos representantes dos sindicatos e após lidas e consensuadas pelo plenário, serão encaminhadas para análise da diretoria executiva da Fenajufe.

Com informações da Fenajufe